Desde o Romantismo, Dante passa a ser construído como símbolo não apenas da Itália, mas da própria italianità. Este trabalho analisa a história contraditória desse mito, em meio às conturbadas mudanças bruscas da história política italiana. Tanto a esquerda quanto a direita terminam por inserir na obra e na vida do poeta seus próprios valores. Mais do que autor de uma incontornável obra literária, Dante se torna objeto de culto: ele próprio um “ídolo”, a ser adorado e combatido. O que mantém viva a incrível força dos mitos, tanto a dos recriados por Dante em sua obra quanto aos atribuídos a Dante pela posteridade? Uma resposta possível seria: a contínua recriação de novas respostas para antigos problemas, permitindo novas ressignificações estéticas, filosóficas e culturais. Nas páginas deste livro, o leitor brasileiro poderá acompanhar essa longa jornada (cultural e histórica, plena de infernos e paraísos), tendo Fulvio Conti como guia. Mas não nos esqueçamos: no final da viagem cabe ao leitor encontrar um sentido próprio para Dante em sua vida, para que conservemos a esperança de que sua obra ainda tem muito a nos dizer. É notável o profuso e irrefreável interesse por Dante que caracteriza nosso tempo. E não me refiro tanto ao interesse dos dantistas profissionais, dos filólogos, dos pesquisadores de literatura italiana, que colocaram o “Poeta Supremo” no centro dos seus estudos, quanto à atenção quase mórbida que Dante suscita há mais de dois séculos na esfera pública, em sua acepção mais ampla. Sobre ele escreveram os personagens mais diversos; em sua homenagem foram erguidos monumentos, bustos, lápides, marcos; organizaram-se cerimônias públicas. Dante foi evocado para exaltar momentos cruciais da história nacional italiana, do Ressurgimento à Grande Guerra, do fascismo à República. Ainda hoje, milhares reúnem-se em praças em certas ocasiões para recitais coletivos da Divina Comédia, uma obra traduzida e conhecida em nível mundial, citada e utilizada com diversas finalidades. Em suma, o poeta florentino prestou-se, ao longo do tempo, a usos e abusos que, na maior parte dos casos, pouco tinham a ver com a essência mais autêntica da sua obra literária. Nas páginas que seguem, procura-se reconstruir essa história peculiar, questionando os motivos que a originaram. O livro é dedicado à grande família de italianos no Brasil, para que, em nome de Dante - poeta universal - possam renovar seu vínculo de afeto com a pátria de seus pais e de seus antepassados e, ao mesmo tempo, sentirem-se, com orgulho, cidadãos do mundo.

O Italiano supremo. Dante Alighieri e a Identidade da nação / Conti, Fulvio. - STAMPA. - (2021), pp. 1-292.

O Italiano supremo. Dante Alighieri e a Identidade da nação

Conti, Fulvio
2021

Abstract

Desde o Romantismo, Dante passa a ser construído como símbolo não apenas da Itália, mas da própria italianità. Este trabalho analisa a história contraditória desse mito, em meio às conturbadas mudanças bruscas da história política italiana. Tanto a esquerda quanto a direita terminam por inserir na obra e na vida do poeta seus próprios valores. Mais do que autor de uma incontornável obra literária, Dante se torna objeto de culto: ele próprio um “ídolo”, a ser adorado e combatido. O que mantém viva a incrível força dos mitos, tanto a dos recriados por Dante em sua obra quanto aos atribuídos a Dante pela posteridade? Uma resposta possível seria: a contínua recriação de novas respostas para antigos problemas, permitindo novas ressignificações estéticas, filosóficas e culturais. Nas páginas deste livro, o leitor brasileiro poderá acompanhar essa longa jornada (cultural e histórica, plena de infernos e paraísos), tendo Fulvio Conti como guia. Mas não nos esqueçamos: no final da viagem cabe ao leitor encontrar um sentido próprio para Dante em sua vida, para que conservemos a esperança de que sua obra ainda tem muito a nos dizer. É notável o profuso e irrefreável interesse por Dante que caracteriza nosso tempo. E não me refiro tanto ao interesse dos dantistas profissionais, dos filólogos, dos pesquisadores de literatura italiana, que colocaram o “Poeta Supremo” no centro dos seus estudos, quanto à atenção quase mórbida que Dante suscita há mais de dois séculos na esfera pública, em sua acepção mais ampla. Sobre ele escreveram os personagens mais diversos; em sua homenagem foram erguidos monumentos, bustos, lápides, marcos; organizaram-se cerimônias públicas. Dante foi evocado para exaltar momentos cruciais da história nacional italiana, do Ressurgimento à Grande Guerra, do fascismo à República. Ainda hoje, milhares reúnem-se em praças em certas ocasiões para recitais coletivos da Divina Comédia, uma obra traduzida e conhecida em nível mundial, citada e utilizada com diversas finalidades. Em suma, o poeta florentino prestou-se, ao longo do tempo, a usos e abusos que, na maior parte dos casos, pouco tinham a ver com a essência mais autêntica da sua obra literária. Nas páginas que seguem, procura-se reconstruir essa história peculiar, questionando os motivos que a originaram. O livro é dedicado à grande família de italianos no Brasil, para que, em nome de Dante - poeta universal - possam renovar seu vínculo de afeto com a pátria de seus pais e de seus antepassados e, ao mesmo tempo, sentirem-se, com orgulho, cidadãos do mundo.
2021
978-65-5807-090-0
1
292
Conti, Fulvio
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